terça-feira, 26 de outubro de 2010

Recomeço



Ele achava que já vivera tudo o que havia pra se viver e já tinha perdido as esperanças de ser feliz outra vez, mas naquela noite em especial tudo estava para mudar em sua vida.
Os habitos de sempre, a vitrola tocando um disco antigo, uma música já gasta de tão ouvida, mas que ainda assim o fazia querer ouvi-la repetidas vezes. A taça de vinho já estava pela metade, o jornal do dia ele já havia lido, mas mesmo assim re-lia algumas manchetes, tudo estava calmo, a noite estava linda, a lua cheia estava alta no céu... mas sem esperar por visitas àquela hora da noite, ouviu a campainha tocar.
"Mas quem será? Isso não é de bater na porta dos outros, que absurdo!". Ia reclamando enquanto caminhava por um longo corredor em direção à porta. Estava prestes a gritar com quem quer que estivesse do outro lado, quando abriu a porta e viu....
Aquele coração de pedra, aquele rancor que o dominava, o homem rude que estava prestes a explodir se viu desarmado. A fúria que o dominara segundos antes havia desaparecido. Do outro lado da porta estava a criatura mais bela que ele já vira ou sonhara, ela leh parecia familiar, ele sentia que já a vira antes, sentia que... como era possível?
Com grandes olhos castanhos, que o olhavam com medo, longos cabelos cor de mel que estavam soltos e completamente bagunçados, mas não importava porque ela ainda assim, era a criatura mais bela. As roupas que usava estavam surradas, jeans velhos, um tênis all star velho, preto e que com certeza já a acompanhava fazia muito tempo e tinha em suas solas a história daquela jovem. Uma mochila nas costas e o cançasso em seu rosto indicavam que ela fizera uma longa viagem até ali. A jovem moça lhe pediu abrigo por aquela noite, pois estava viajando a pé já faziam dois dias.
Ele nunca deixara viajantes como ela entrarem em sua casa. Já lhe pediram abrigo centenas de vezes, homens muito velhos, mulheres exepcionalmente lindas e ele nunca permitira que nem mesmo crianças pusessem os pés em sua casa.
Era um homem de quarenta e cinco anos, já vivera alguma coisa, já trabalhara um bocado, já se apixonara uma vez e mesmo apaixonado não se deixou viver esse amor, já tivera mulheres apaixonadas por ele, já havia mudado de casas várias vezes, mudou de emprego várias vezes, fez muitos amigos, perdeu muitos amigos, escreveu algumas cartas, leu muitos livros, assistiu muitos filmes e jamais se vira numa situação como aquela.
Todos os receios de abrigar um completo desconhecido em sua casa sumiram quando olhou para aquela jovem, tão pequena, tão frágil... tão linda!
Fez sinal para que entrasse sem querer pensar mais. Estava desarmado, estava confuso, estava assustado, mas acima de tudo curioso, e queria desvendar os misterios que estavam por traz de todos esses sentimentos... Aquela jovem o fizera parar de respirar por alguns segundos e ele precisava saber o por quê.

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