sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Despedida




A estação rodoviária estava cheia. As pessoas com pressa para pegar o ônibus e viajar, passear, ou voltar para casa. No meio do vai e vem de pedestres ela estava parada. Sabia para onde deveria ir, sabia o horário em que deveria estar na plataforma, estava atrasada, mas não conseguia sair do lugar. Embaixo do relógio central ela olhava para todos os lados em busca de alguma reação à esperança que a dominava. Não queria acreditar que teria que ir embora sem se despedir. Partiria em uma viajem sem destino certo. Seus pais já não se importavam mais com os caminhos que ela escolhesse para sua vida. "Uma perdida!" era o que eles diziam a respeito de sua filha mais velha. Eram tantos flahs que vinham a sua mente, cenas de uma família feliz, lembranças de uma infância adorável, lembranças...
O ônibus logo partiria. Ela não se importava se alguém de sua fmília iria ou não aparecer, mas ele, ele tinha que estar ali. Não é possível deixar quem você diz ser o amor de sua vida ir embora sem que você se despeça dela. "Não é possível!". Aquela pequena jovem e destemida mulher, no meio da multidão não conseguia mais conter as lágrimas. Era sempre tão forte, não deixava que soubessem o quão frágil ela podia ser, o quão sosinha ela se sentia muitas vezes, mas àquela altura já não adiantava mais se esconder. Um aperto tão forte dominava seu peito. Os minutos passavam tão rápido, sua mente vagava, seus olhos buscavam, buscavam, buscavam, mas nada viam, ou melhor, ninguém. Ela não via ninguém! "Que loucura! Que tortura! " Sabia que deveria ir, mas algo a dizia para ficar, talvez ela perdesse o ônibus, mas não poderia partir sem um adeus.
"Eu nunca te abandonaria!" a voz dele soava em sua cabeça repetidas vezes, "Eu nunca te abandonaria!".
Ali, embaixo do relógio central, estava a mais triste das flores vivendo os seus mais desesperados segundos. O tempo já havia se esgotado. Uma última olhada ao redor e...

"Eu sabia!"

A mochila surrada que carregava nas costas ela deixou cair, nada mais importava, ela estava certa. Ele jamais a abandonaria. Largou a mala e a mochila no chão e sem pensar mais correu para o abraço mais importante de sua vida.
A multidão ao redor continuava andando, correndo, apressados sem olhara para os lados e sem notar aquele momento. Os segundos pareceram congelar naquele instante. Os corações tão tristes, tão acelerados, agora pareciam estar completos, seguros. Os braços finos da jovem envolviam o pescoço do rapaz enquanto ele a segurava pela cintura, e ambos sabiam que tudo que lhes importava no mundo estava ali, entre os seus braços. E então se beijaram. Seus lábios se tocavam com tanta força, com tanta vontade, com tanto amor!
Ainda abraçados se afastaram minimamente e se olharam. Os olhos que tanto gostavam. E sabiam que não precisavam dizer nada. Tudo que deveria ser dito já se havia dito antes, todas as palavras e declaraçõe seriam inúteis àquela hora, seriam desnecessárias. Ficaram se olhando por alguns segundos. Tão intensamente! Os dedos dela deslizavam pelo rosto dele tocando cada centímetro com delicadeza. E os olhos dele percorriam todos os espaços daquele rosto angelical, enquanto seus dedos se entrelaçavam naqueles longos cabelos negros. Eles jamais esqueceriam aquele momento.
Ouviram então a última badalada do relógio indicando que o ônibus logo iria partir. Se abraçaram mais uma vez, se olharam, se beijaram e nada disseram. Um sorriso iluminava os rostos dos dois enquanto se afastavem lentamente. Ela colocou sua mochila nas costas mais uma vez, pegou sua mala e caminhou em direção à plataforma enquanto ele a observava. Era o momento mais difícil de sua vida, se despedir de quem ela tanto amava e precisava. Sempre que olhava para traz enquanto caminhava, via que ele estava lá, ele fora lhe dar o abraço que prometera, lhe dar o beijo que precisava, mas não fora lhe dizer adeus, não era um adeus, e mais do que nunca ela tinha a certeza de que se tratava de um "Até logo, meu amor!".

Um comentário:

Mauricio disse...

Meu primeiro dia de viagem. Pouco, mas bem planejado, estive a esperar durante muito tempo para sentir a liberdade aspirada por gerações de descendentes, na pretenção de viver parte das historias de nossos antepassados e me tornar personagem de minha própria. Foi uma primeira viagem curta, mal saí de casa. Estive tempo demais aturando a obrigação tediosa de me manter em um emprego como atendente, num pronto atendimento hospitalar e meu primeiro dia se dá exatamente a um fato, um acontecimento que põe meus pés na estrada. Demissão. Um emprego sempre nos agrega valor e geralmente um valor que não temos, assim como os relacionamentos. acredito nestes valores, mas quando existe algum tipo de aliança social ou sentimental, estes são superestimados, como quando olha-se no espelho e pença: "assim está bom!" quando na verdade voce está com aquela mesma cara de merda de todos os dias e provavelmente alguem ira superestima-lo tanto quanto outros, mais sensatos, irão subestima-lo mais tarde. Ou mais cedo. A questão é que em certo ponto da vida, as situações passam a ser sempre frustrantes, me lembram o ócio e mancham a lucidez de modo que a percepção também muda e ao invez de mágico, o mundo torna-se cruel. Crueldade respeitada, inclusive tentadora, vertente de minha arte ou da arte de qualquer vagabundo dedicado.

Lua cheia, lembranças e tudo o que seria capaz de matar um cara, seja por tédio, seja por medo ou encantado. tive boas noites de lua cheia, de ceu estrelado, e na verdade, quem não as tem? Em minha viagem sei que terei mais e que agregar historia é talvez, meu principal objetivo. Neste principio severo, reconheço as relações entre o intencional duvidoso e o acaso conveniente e cada vez mais sinto a exaustão proveniente dos montes de paisagens extensas e aparentemente infinitas, das debilidades fisicas, as exigencias de excesso e escassez simultaneamente, regendo o sentido de liberdade e conforto pelo desconforto.

Porra de chuveiro, teimou em desviar uma gota de agua fria para as costas, que desce pro rabo e vai até os pés e vai descendo até o chão (rs). uma unica gota fria e maldita em meio a toda aquela agua quente e agradavel, acabando com o tesão do banho perfeito. enfim... fico imaginando se fosse o contrario, aquela unica gota salvaria o banho, salvaria o mundo todo tentar se esconder do restante da agua gelada. Trocadilho infeliz, mas relacionar a droga do chuveiro queimado com a vida...bem, dá-se um resultado desfigurado, como seria comparar qualquer coisa comparada à vida e sem duvida existem os que discordariam da afirmação, do trocadilho, do blog inteiro, mas afinal, não falo em nome de nenhum dos neo-castrados, neo-mal-intensionados, neo-embelezados, nem de qualquer outro feliz ou infeliz...