"Quem nunca dividiu segredos com a Lua?", era a pergunta que dominava a mente daquela mulher que tão timidamente permanecia sentada em seu banco preferido do parque. Durante o dia seria impossível sentar-se ali e simplesmente deixar seus pensamentos vagarem por onde quer que fosse.
Era uma noite tão calma. Estava calor e a brisa soprava em seu rosto fazendo balançar os cachos loiros que teimavam em não ficar presos no coque. Os sapatos de salto pelos quais ela pagara tão caro, já não estavam mais nos pés e sim em cima do banco ao seu lado. Não havia ninguém além de seus pensamentos no parque àquela hora, e sem todos os olhares para repararem em seus bons modos, não era preciso compostura e nem interpretar a boa menina de família que jamais andaria descalça, ou se sentaria em um banco de praça àquela hora da noite sem qualquer segurança. E era tão bom quebrar as regras e simplesmente se entregar, à Lua, por que não? Tão cheia no céu, tão linda, tão pura. Parecia que aquele gigante podia protegê-la e nada mais era necessário.
Começou a se lembrar de quando era criança e vivia a fugir da lua, afinal como ela podia estar em todos os lugares ao mesmo tempo? Não adiantava fugir, e para todos os lados que olhasse, em todos os cantos do imenso jardim de sua velha casa em que resolvesse se esconder, lá estava ela esperando por uma conversa. Após alguns anos descobriu porque não adiantava fugir e se alegrou ao perceber que poderia fazer pedidos para a Lua. E sempre que a via cheia, bem redonda, lá no alto, repetia o mesmo verso: "Lua cheia, com todos os teus crescentes, quando tu fores e voltares, me tragas este presente", então fazia seu pedido. E foram tantas coisas!
Ali, sentada não pode conter o riso por todas as compras gigantescas que já pedira, todos os príncipes encantados, todas as notas altas, o trabalho perfeito... E mesmo já tendo se passado tantos anos não desistia de pedir para a lua todas as coisas que quisesse, até as mais impossíveis!
Quem passasse por aquele banco e a visse ter tal conversa com a lua, certamente acharia estranho, era o que ela pensava, e ria por não se importar nem por um segundo com isso. "Quem nunca dividiu segredos com a Lua?".
Do outro lado do lago em um outro banco, discutindo com seus pensamentos e olhando para a bela mulher que insistia em conversar com a noite, estava um jovem rapaz que apenas se encantava cada vez mais com aquilo tudo, e permanecia a assistir àquela cena o mais timidamente possível para não estragar o que parecia ser tão divertido para aquela desconhecida.
Sem deixar de olhar para quem também costumava chamar de "senhora de branco", a jovem continuava a recordar de tantas outras coisas que compartilhara com a Lua. Como em todas as suas viagens sempre arranjava um tempo para apreciá-la, pois em qualquer lugar do mundo ela estaria lá e pareceria protegê-la.
Foi lembrando do fato de que a Lua sempre seria sua companheira, onde quer que estivesse, que surgiu mais um segredo. Lembrou-se de quem um dia estivera com ela ali, naquele mesmo banco, olhando em seus olhos e "Estarei sempre te olhando enquanto olhar para a Lua" era o que ele dizia. Era tão dolorido lembrar-se da voz dele dizendo aquelas palavras tão importantes, quando de fato ele não estava mais ali e jamais estaria. Tão triste lembrar a dor de perder alguém, ver a separação invadir sua vida sem pedir permissão. Quando se trata da morte, não há como tentar evitar, ela simplesmente vem. Como uma brisa e leva com ela o último suspiro.
Nesse momento ela não podia conter as lágrimas. Toda a paz que a dominava segundos antes fora esmagada pela tristeza, pela mágoa, pela dor. Tudo a impedia de ser feliz novamente. Parecia errado rir, parecia cruel seguir sua vida, encontrar outro alguém, se sentir leve, aproveitar os momentos pequenos e ver alegria nas coisas simples, sendo que ele não estaria mais ali para que ela pudesse dividir tudo isso. "Eu não posso, eu não devo", era tudo o que ela conseguia pensar naquele instante.
O estranho que observava a tudo aquilo, não pode deixar de sentir com ela toda aquela amargura e não pode deixar de ouvir tudo aquilo que ela dizia em voz alta. Queria interferir, queria dizer a ela o quão bela era, o quanto era importante que seguisse sua vida, que não estava errada em se sentir feliz, queria dar a ela todo o carinho que precisava e que merecia, mas não podia. Simplesmente não podia intervir assim nos sentimentos de alguém e se policiou para não sair do lugar e tomá-la em seus braços. Discretamente, levantou-se e caminhou até a saída do parque, dando licença para que ela pudesse ficar, enfim, só com seus pensamentos.
Cansada de devanear e triste por tudo o que dissera e que sentira, calçou lentamente seus sapatos, pegou sua bolsa, deu uma última olhada para o céu e se levantou para ir pra casa. Mais uma vez compartilhava um segredo com a noite. "Estarei sempre te olhando enquanto olhar para a Lua", e sabia que ele estava com ela, sempre estaria olhando para ela. Sempre.