sábado, 19 de novembro de 2011

Segredos



"Quem nunca dividiu segredos com a Lua?", era a pergunta que dominava a mente daquela mulher que tão timidamente permanecia sentada em seu banco preferido do parque. Durante o dia seria impossível sentar-se ali e simplesmente deixar seus pensamentos vagarem por onde quer que fosse.
Era uma noite tão calma. Estava calor e a brisa soprava em seu rosto fazendo balançar os cachos loiros que teimavam em não ficar presos no coque. Os sapatos de salto pelos quais ela pagara tão caro, já não estavam mais nos pés e sim em cima do banco ao seu lado. Não havia ninguém além de seus pensamentos no parque àquela hora, e sem todos os olhares para repararem em seus bons modos, não era preciso compostura e nem interpretar a boa menina de família que jamais andaria descalça, ou se sentaria em um banco de praça àquela hora da noite sem qualquer segurança. E era tão bom quebrar as regras e simplesmente se entregar, à Lua, por que não? Tão cheia no céu, tão linda, tão pura. Parecia que aquele gigante podia protegê-la e nada mais era necessário.
Começou a se lembrar de quando era criança e vivia a fugir da lua, afinal como ela podia estar em todos os lugares ao mesmo tempo? Não adiantava fugir, e para todos os lados que olhasse, em todos os cantos do imenso jardim de sua velha casa em que resolvesse se esconder, lá estava ela esperando por uma conversa. Após alguns anos descobriu porque não adiantava fugir e se alegrou ao perceber que poderia fazer pedidos para a Lua. E sempre que a via cheia, bem redonda, lá no alto, repetia o mesmo verso: "Lua cheia, com todos os teus crescentes, quando tu fores e voltares, me tragas este presente", então fazia seu pedido. E foram tantas coisas!
Ali, sentada não pode conter o riso por todas as compras gigantescas que já pedira, todos os príncipes encantados, todas as notas altas, o trabalho perfeito... E mesmo já tendo se passado tantos anos não desistia de pedir para a lua todas as coisas que quisesse, até as mais impossíveis!
Quem passasse por aquele banco e a visse ter tal conversa com a lua, certamente acharia estranho, era o que ela pensava, e ria por não se importar nem por um segundo com isso. "Quem nunca dividiu segredos com a Lua?".
Do outro lado do lago em um outro banco, discutindo com seus pensamentos e olhando para a bela mulher que insistia em conversar com a noite, estava um jovem rapaz que apenas se encantava cada vez mais com aquilo tudo, e permanecia a assistir àquela cena o mais timidamente possível para não estragar o que parecia ser tão divertido para aquela desconhecida.
Sem deixar de olhar para quem também costumava chamar de "senhora de branco", a jovem continuava a recordar de tantas outras coisas que compartilhara com a Lua. Como em todas as suas viagens sempre arranjava um tempo para apreciá-la, pois em qualquer lugar do mundo ela estaria lá e pareceria protegê-la.
Foi lembrando do fato de que a Lua sempre seria sua companheira, onde quer que estivesse, que surgiu mais um segredo. Lembrou-se de quem um dia estivera com ela ali, naquele mesmo banco, olhando em seus olhos e "Estarei sempre te olhando enquanto olhar para a Lua" era o que ele dizia. Era tão dolorido lembrar-se da voz dele dizendo aquelas palavras tão importantes, quando de fato ele não estava mais ali e jamais estaria. Tão triste lembrar a dor de perder alguém, ver a separação invadir sua vida sem pedir permissão. Quando se trata da morte, não há como tentar evitar, ela simplesmente vem. Como uma brisa e leva com ela o último suspiro.
Nesse momento ela não podia conter as lágrimas. Toda a paz que a dominava segundos antes fora esmagada pela tristeza, pela mágoa, pela dor. Tudo a impedia de ser feliz novamente. Parecia errado rir, parecia cruel seguir sua vida, encontrar outro alguém, se sentir leve, aproveitar os momentos pequenos e ver alegria nas coisas simples, sendo que ele não estaria mais ali para que ela pudesse dividir tudo isso. "Eu não posso, eu não devo", era tudo o que ela conseguia pensar naquele instante.
O estranho que observava a tudo aquilo, não pode deixar de sentir com ela toda aquela amargura e não pode deixar de ouvir tudo aquilo que ela dizia em voz alta. Queria interferir, queria dizer a ela o quão bela era, o quanto era importante que seguisse sua vida, que não estava errada em se sentir feliz, queria dar a ela todo o carinho que precisava e que merecia, mas não podia. Simplesmente não podia intervir assim nos sentimentos de alguém e se policiou para não sair do lugar e tomá-la em seus braços. Discretamente, levantou-se e caminhou até a saída do parque, dando licença para que ela pudesse ficar, enfim, só com seus pensamentos.
Cansada de devanear e triste por tudo o que dissera e que sentira, calçou lentamente seus sapatos, pegou sua bolsa, deu uma última olhada para o céu e se levantou para ir pra casa. Mais uma vez compartilhava um segredo com a noite. "Estarei sempre te olhando enquanto olhar para a Lua", e sabia que ele estava com ela, sempre estaria olhando para ela. Sempre.

domingo, 29 de maio de 2011

Curiosidade...

(Continuação de "Recomeço" em 26 de Outubro de 2010)


Havia então uma sensação de ansiedade no ar. Aquela pequena e bela jovem dava passos curtos e lentos em direção à sala enquanto ele trancava a porta e sentia seu coração palpitar. "Mas o que é isso? Você não é mais nenhum adolescente pra se sentir assim!".



Ainda tímida a menina esperava que ele a dissesse pra onde deveria ir. Fazia tanto frio do lado de fora, não tinha pra onde ir e àquela hora da noite já estava cansada demais pra continuar caminhando pelas estradas escuras até chegar ao seu destino. Estava envergonhada e receosa por estar ali, pedir abrigo a um estranho, mas seria uma noite, e esta noite apenas.



Ele se aproximou e então sorriu, estava encantado por sua belaza. Pegou a mala pesada que ela trazia nas costas e lhe mostrou o quarto em que poderia pernoitar. Descobrira que seu nome era Clara, enão poderia haver nome mais bonito e delicado para ela. A deixou no quarto lhe entregou uma toalha para que pudesse tomar banho e desceu para a sala.



Andava de um lado para o outro do cômodo se perguntando por que estaria assim. Havia uma desconhecida em sua casa, "uma desconhecida! ", como poderia estar tão encantado por alguém de quem só sabia o nome: Clara. "Clara... Clara... Clara..." a voz de um anjo ecoava em sua mente repetidas vezes. Tão suave, tão tímida e tão encantadora. Sentou-se em sua poltrona em frente à janela, abriu novamente o jornal, com as notícia que já lera e relera diversas vezes aquela noite, completou a taça com o vinho que bebia antes que sua noite fosse interrompida por tal supresa.

Certo tempo depois pôde ouvir passos no andar de cima, vindo em direção a escada. Lá estava ela. No alto da escada, uma tanto quanto desajeitada, descabelada... Vestia um moletom branco, jpa surrado, os cabelos presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça deixavam escapar alguns fios ao redor de seu rosto. Nos pés não estavam mais o all star, mas sim uma pantufa, um chibelo, uma meia, nou algo pareciso com isso. Desceu trazendo nas mãos alguns livros. Chegou ao andar de baixo com a cabeça baixa. Timidamente levantou os olhos para ver seu anfitrião. Agradeceu-lhe pela hospitalidade, disse lhe que não queria incomodar e portanto partiria ao nascer do Sol.

Ele a ofereceu uma taça de vinho, e um acento em sua poltrona para que se acomodasse, o que ela delicadamente rejeitou. Preferiu tomar uma xícara de café e sentar-se no chão próximo à lareira. Ele então sentou-se em sua poltrona do outro lado do cômodo e ficou a observá-la. Começaram a conversar, ele estava intrigado a respito de onde ela viera, para onde ia, o que fazia, porque estava ali... E sua curiosidade foi diminuindo a medida em que conhecia quem era aquela jovem tão cativante.

Clara dissera que estava viajando já haviam dois dias. Não tinha mais família, pois seus pais sofreram um grave acidente alguns anos antes. Poucas semanas antes daquele dia encontrara um diário de seu pai contando histórias e momentos marcates de sua vida. Em uma das páginas ele descrevia um lugar belíssimo na Serra. O topo de uma das montanhas de onde era possível ver o dia transformar-se em noite, a noite transformar-se em dia, ver a água virar nunvem, e as nuvens virarem chuva. Um lugar onde era possível se sentir em paz, um lugar que acalmava, onde a brisa trazia um doce cheiro de jasmim...

O silêncio invadiu a sala para que uma lágrima pudesse escorrer em sua face, mostrando todo sentimento, pesar e importância que aquela viagem tinha para ela... sem mais precisar dizer,se aproximou de Clara, enxugou-lhe as lágrimas e deixou que o silêncio conduzisse a conversa por algum tempo.

domingo, 3 de abril de 2011




Ali deitada em seu pedacinho do mundo, não conseguia conter as palavras, os pensamentos, as lágrimas e as risadas que há tanto tempo inundavam e confundiam sua mente.

Não podia mais guardar para si tantas pequenas mágoas que pareciam nao ter importancia, mas que naquele instante eram uma bola de neve tão grande, que não tinha mais controle.

Pensava que podia aguentar, afinal, não era nada demais, mas todos os "nada de mais" agora eram alguma coisa...
Como lidar com tantas dificuldades ao mesmo tempo, como ter a coragem de falar, como não magoar a quem tanto se quer bem, como? Sempre que tentava explicar o que acontecia consigo terminava engolida por um choro desproporcional que a impedia de continuar e a fazia parecer completamente desequilibrada e bipolar, fazendo com que aguentasse por mais um pouco. Já pensara em dizer, ja esperara o melhor momento, ja ficara confusa, ja tentara começar, ja desistira, ja aguentara.. Era possível uma solução que não parecece infantil? Era possivel explicar o que sentia por uma carta? Haveria de ser, teria de ser. Começara a escrever umas poucas palavras em um pedaço de papel em branco. A cada linha de rascunho um punhado de folhas acabava amassada no chão. Pode ser que estejas se perguntando por ela estaria fazendo aquilo. Bom creio que se sentira sosinha, sabia que não estava mas se sentia assim.. sabia que era muito amada, muito querida, mas a distancia que um dia foi temporaria parecia não querer mais ir embora, aquela que um dia fora tão alegre, agora dividia sua razão de estar feliz com tantas outras coisas e pessoas que eram tão importantes quanto ela, ou quase, e que mereciam estar no lugar onde estavam. É claro que era possível e real ela estar feliz pela conquista dele, é claro que estava mesmo feliz por ele, mas ainda asssim as mudanças e felicidades não eram suas, pois continuava estagnada no mesmo ponto de quando tudo começara, não por preguiça, não por que não tentasse, nao por gosto, mas por destino, sei lá! Como lidar com a perda da sua companhia de todos os dias de todas as horas, como aprender a dividir esse espaço que um dia fora seu com tantos outros fatores... Ao mesmo tempo pensava que egoísta seria por deixar escapar sentimentos tão... tão... pequenos? seriam realmente pequenos? será que bem no fundo, não haveria um pouco de razão no que tentava dizer? Sua cabeça parecia girar enquanto tentava decidir o que fazer... e como fazer.... e como explicar ter ficado calada por tanto tempo e simplesmente resolver gritar quando tudo parece estar em seu curso perfeito... Há quem possa a chamar de insana! E quem sabe ela realmente seja? Mas quem de fato não é minimamente insano? Enquanto finalmente conseguia escrever mais de um parágrafo na mesma folha pensava o que seria a insanidade. Amar demais? Amar incodicionalmente? Não brigar? Não reclamar? Ou seria insanidade essa falta de amor, ou seriam insanas aquelas pessoas que se fecham a estes sentimentos e entregas por medo do que virá depois... Diriam: "tolice pensar que será pra sempre, nada é!" mas se ela mesma não acreditasse que seria, quem mais o iria fazer? quem acreditaria por ela? E não se arrependeria jamais por sentir-se assim! Insanos seriam aqueles que se privam de uma felicidade plena, que se privam de momentos inesquecíveis, que se pivam de ouvir uma palavra de conforto, que se privam de dizer algo que emocione, que se privam de chorar de alegria, que se privam de correr riscos, que são incapazes de acreditar e viver intensamente aquilo em que acreditam. E ela acreditava no que fazia, apesar de todo o medo e insegurança, acreditava que tudo aquilo poderia explicar ela mesma, que fariam com que a entendessem... Um último olhar sobre o papel já repleto de palavras foi lançado, uma respiração longa e profunda, um tremor por todo seu corpo, mas lá estava, tudo escrito... E já não teria mais volta. Que leiam!


Há certas horas que não precisamos de um amor,

Não precisamos da paixão desmedida,

Não queremos beijo na boca,

E nem dois corpos a se encontrar na maciez de uma cama.


Há certas horas que só queremos a mão no ombro,

o abraço apertado, ou apenas o estar ali, quietinho, ao lado...

sem nada dizer.


Há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar,

que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com agente, a nos fazer sorrir...


Alguém que ria das nossas piadas sem graça,

que ache nossas tristezas as maiores do mundo,

que nos teça elogios sem fim,

e que apesar de todas essas mentiras úteis nos seja de um asinceridade inquestionável.


Que nos mande calar a boca, ou nos evite um gesto impensado,

Alguém que nos possa dizer:

"Acho que você está errado, mas estou ao seu lado"

Ou que apenas diga:

"Sou seu amor e estou aqui"


(W.S.)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Miscelaneas...

Vivendo a partir de máscaras. Para tudo na vida se usa uma máscara. Não hám alguem que nunca tenha se utilizado delas ao menos uma vez. E pra que?
Deixar de abrir um sorriso quando se quer, de contar aquela piada que de engraçada não tem nada apenas para não fazer-se de tolo, para parecer alguem sério, maduro.. Dane-se a maturidade!
Segurar o choro para parecer forte. Não poder deixar rolar a primeira lágrima para que não caiam as segundas e as terceiras... Não se deixar emocionar pelas coisas simples e sinceras por não ser momento ou a ocasião certa... Dane-se o que é certo!
Fazer as coisas erradas é que nos fazer crescer, que nos levam a cair para que aprendamos a levantar sem medo de falhar, errar e cair novamente.
Deixar transparecer o que é realmente importante para nós é o que vale. Deixar-se tocar, deixar-se sentir, deixar-se emocionar, deixar-se viver!
Lembranças.... Lembrar de quando eramos crianças e tudo era um conto de fadas, tudo era puro, as brincadeiras mais singelas, abrir um belo sorriso apenas por sentir-se feliz, e sentir-se feliz com o que é simples.
Deitar na grama, olhar para o céu, tão azul, ver aqueles pedaços de algodão flutuantes que formam desenhos no alto, para que todos possam ver, e para que cada um enxergue o que quiser, o que sua imaginação permitir!
Tão simples quanto as nuvens é ver a chuva cair. Realizar-se por poder ver e ouvir a chuva cair. Permitir-se molhar com a agua da chuva, sem pensar o que acham os outros, sem importar-se com a roupa que veste, com o dia, com os compromissos.. viver!
Apaixonar-se, entregar-se a um amor... Abraçar, beijar, amar, amar e amar muito. Ouvir palavras bonitas, sinceras, dizer palavras tantas quanto gostaria de ouvir, pela alegria do outro. Errar, magoar e ser magoado faz parte, não há um amor, não há cumplicidade sem que haja um pouco de sofrimento... mas todas as tristezas e desavensas são superadas pelas alegrias, por uma tarde de sorrisos, por um olhar que te compreenda, por um abraço que te conforte, por momentos que jamais serão esquecidos... Amar!
Gritar! Viver é gritar... dizer o que pensa, impor o que deseja... e calar. Engolir muitos sapos digerir lentamente até que se tornem suportáveis para que possa gritar novamente.
Cantar... Sorrir... Dançar... Brincar.. Pular... Chorar.. Sofrer... Calar... Sentir...
Viver!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Pedaços..



Gostava de observar pedaços de fotografias... Gostava de ver uma imagem, um estranho, uma paisagem, uma bela mulher... e imaginar as possíveis histórias por trás de cada traço, cada expressão, cada gesto.
Ele via sorrisos, mas gostava de descobrir o que estava por trás desses sorrisos. Dizia que cada sorriso era único. "Não me importa que ninguém me entenda!" Era claro para aquela mente tão peculiar que um sorriso não era correspondente a alegria. Haviam aqueles maliciosos, ansiosos, medrosos, mentirosos...
Tão curiosos quanto os sorrisos eram as lágrimas, que não eram só de tristeza, mas também de alegria, raiva, ciumes, paixão... Ah! Como era mágico observar fotos ou partes de fotos e tentar descobrir o que queriam de fato mostrar, o que viviam aquelas pessoas, por quais mudanças passaram, por que estavam felizes, por que estavam tristes, por que se apaixonaram?
Passava seu dia recortando de revistas: mãos, que teriam tocado algum objeto, em alguém, mãos vividas, outras jovens ainda, com traços e histórias diferentes.
Certa vez encontrou uma fotografia que não sabia exatamente o porque, mas uma fotografia... especial? Num canto escondido da plateleira de livros da biblioteca, lá estava ela. Uma imagem tão simples, tola talvez, mas uma imagem que o hipinotizava. Uma imagem pela qual se apaixonou. Tentava imaginar tantas possiveis situações que envolvessem aquelas duas pessoas ali sentadas.
Começou a imaginar seus rostos, suas feições. Havia uma mulher, jovem aparentemente, estava sentada sobre as tábuas de uma cerca, com os pés soltos ao ar. Calçava um belo sapato de salto alto e usava um vestido tão simples, e ainda assim tão lindo.
Pensava que ela estaria feliz, pois estava acompanhada e acabara de receber um buquê de flores, "que mulher não estaria feliz?". Podia imaginar seus cabelos castanhos que contornavam seu rosto fino e delicado, imaginava seus olhos sorridentes, brilhantes, encantados de amor. Olhos castanhos escuros, mas profundos, arredondados, doces olhos castanhos, com cílios longos que os faziam tão sedutores. Ele se divertia tanto imaginando tantos detalhes.
Aquele homem que aparecia ao lado de tão bela mulher na foto não o intrigava, não o inspirava a imaginar... Estava tão encantado com a bela imagem que formava em sua mente de uma mulher que desejava que fosse real, que não queria pensar em como ela teria ganhado aquele buquê, por que o ganhara, quem era aquele homem, qual a história daquele casal, de onde vieram, para onde iriam... Só conseguia pensar que queria que ela fosse real. Pensava que ela era real. Aquela jovem viveu em alguma época e esteve ali onde ele estava tempos antes, pois tratava-se de uma foto que fora encontrada na biblioteca da casa de seu avô. Quem seria ela?
Sua mente girava enquanto visualizasa cada centímetro de seu rosto. Os traços que a expressavam, sua boca, as maçãs de seu rosto... Seria possível? "Apaixonar-me pela idéia de um ser criado perfeitamente para mim?" E como queria que fosse real.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Brisas...





A perguntavam se estava tudo bem. O que responder? Dizer a verdade culminaria em explicar o porque de não estar tudo bem, e escutar conselhos, ouvir consolos, e só de pensar nisso era quase automático responder que sim, estava tudo ótimo, fingir um sorriso e continuar quieta como se aquele fosse o seu normal.

Precisava sair dali! Deixar aquelas pessoas que pareciam viver uma alegria frenética e exagerada, deixar aquele bom humor irritante que a fazia querer sumir. Precisava livrar-se daquela situação tão incômoda, daqueles dias que pareciam não ter mais fim. Precisa-va parar de sorrir simplesmente porque os outros a queriam ver sorrir, parar de viver aquele falso bem estar, aquele falso conforto...

Saiu de casa sem avisar ninguém, sem compromisso, sem riscos de ser incomodada, encontrada... Finalmente podia respirar... ah! como era bom estar só com seus pensamentos, caminhar meio sem rumo, sem horas, estar apenas consigo mesma. Que alivio!

Caminhava lentamente, enquanto caminhava podia escutar o som dos pássaros, podia ver o mar ao longe e resolveu ir em sua direção. Não haviam carros na rua, apenas alguns pedestres que surgiam de uma esquina qualquer e sumiam tão discretamente como apareciam. Finalmente tudo estava calmo. O sol ja estava baixo e não muito forte, mas ainda assim, lindo!

Após alguns minutos caminhando pode chegar á praia... deixou para trás o asfalto das ruas que a levaram até o mar. Descalçou os chinelos e pôs os pés na areia. A areia do começo da praia, tão clarinha, tão macia.. Adorava sentir seus pés afundarem na areia enquanto caminhava.

Era fim de tarde, a praia estava vazia, poucas pessoas caminhavam à beira mar, outras insistiam em ficar esticadas na areia sob um sol que já estava partindo. Escolheu um lugar na areia e sentou-se. Parecia que naquele instante tudo iria se acertar, todos os problemas sumiriam e as angustias também. Agora poderia pensar.

Sentia a brisa que vinha do mar bater em seu rosto, refrescar o calor absurdamente forte que naquele lugar. Como gostava do vento... Era capaz de passar horas ali sentada, de olhos fechados, sentindo a brisa suave bater em seu rosto, envolver seu corpo trazendo uma paz tão grande! Paz que seu coração já tão apertado nao sentia ha um tempo.

Começou então a pensar no porque de estar tão angustiada. Por que sentia aquela tristeza tão grande? Não haviam motivos... Mas não conseguia evitar aqueles sentimentos. Era tão estranho... Pensar em todas as alegrias que teve, em todo o amor que recebia e que sentia por aquelas pessoas que ha poucos minutos a estavam irritando profundamente. Mas precisava de um tempo para respirar...

Pensava em como queria a pessoa certa ao seu lado naquele instante... Aquele homem que a faria sorrir de uma maneira que só ele conseguia. "O sorriso que só aparece quando está comigo" Ela dizia a ele. E era verdade.. Sentia que naquele instante havia um pedaço dela que estava distante, um pedaço tão importante, tão indispensável...!

Ali sentada podia imaginar como seria se ele estivesse ali. Sentado ao seu lado enquanto olhavam o sol se pôr, caminhando de mãos dadas com os pés na agua do mar. Podia se ver sorrindo, brincando e parecia um sonho tão bom! Podem pensar que é clichê, mas não importa, pois a felicidade dela estaria ali.

Do sonho a realidade... Estava só. Ao mesmo tempo em que sentia uma saudade enorme, capaz de dominá-la a ponto de entristece-la e corroe-la, sabia que em breve poderia acabar com aquele sentimento, e por isso precisava manter-se sã. Pensar em quão pouco faltava para sentir-se plenamente feliz, ao invés de apenas notar quão infeliz estava.

Tuda a paz que fora buscar em sua caminhada estava ali, sempre esteve. Precisou apenas do silêncio, de uns minutos consigo mesma para notar o quão estupidamente frágil estava se deixando transparecer.

Ali, sentada na areia, com a brisa e o mar como companhia, pode ver pais brincando com seus filhos, avôs brincando com seus netos, casais enamorando-se, amigos divertindo-se, e pode notar o quanto já esteve feliz ali, que o tempo passa, tudo passa, e os segundo que pareciam tão eternos já estavam a correr contra o tempo.