Havia então uma sensação de ansiedade no ar. Aquela pequena e bela jovem dava passos curtos e lentos em direção à sala enquanto ele trancava a porta e sentia seu coração palpitar. "Mas o que é isso? Você não é mais nenhum adolescente pra se sentir assim!".
Ainda tímida a menina esperava que ele a dissesse pra onde deveria ir. Fazia tanto frio do lado de fora, não tinha pra onde ir e àquela hora da noite já estava cansada demais pra continuar caminhando pelas estradas escuras até chegar ao seu destino. Estava envergonhada e receosa por estar ali, pedir abrigo a um estranho, mas seria uma noite, e esta noite apenas.
Ele se aproximou e então sorriu, estava encantado por sua belaza. Pegou a mala pesada que ela trazia nas costas e lhe mostrou o quarto em que poderia pernoitar. Descobrira que seu nome era Clara, enão poderia haver nome mais bonito e delicado para ela. A deixou no quarto lhe entregou uma toalha para que pudesse tomar banho e desceu para a sala.
Andava de um lado para o outro do cômodo se perguntando por que estaria assim. Havia uma desconhecida em sua casa, "uma desconhecida! ", como poderia estar tão encantado por alguém de quem só sabia o nome: Clara. "Clara... Clara... Clara..." a voz de um anjo ecoava em sua mente repetidas vezes. Tão suave, tão tímida e tão encantadora. Sentou-se em sua poltrona em frente à janela, abriu novamente o jornal, com as notícia que já lera e relera diversas vezes aquela noite, completou a taça com o vinho que bebia antes que sua noite fosse interrompida por tal supresa.
Certo tempo depois pôde ouvir passos no andar de cima, vindo em direção a escada. Lá estava ela. No alto da escada, uma tanto quanto desajeitada, descabelada... Vestia um moletom branco, jpa surrado, os cabelos presos em um rabo de cavalo no alto da cabeça deixavam escapar alguns fios ao redor de seu rosto. Nos pés não estavam mais o all star, mas sim uma pantufa, um chibelo, uma meia, nou algo pareciso com isso. Desceu trazendo nas mãos alguns livros. Chegou ao andar de baixo com a cabeça baixa. Timidamente levantou os olhos para ver seu anfitrião. Agradeceu-lhe pela hospitalidade, disse lhe que não queria incomodar e portanto partiria ao nascer do Sol.
Ele a ofereceu uma taça de vinho, e um acento em sua poltrona para que se acomodasse, o que ela delicadamente rejeitou. Preferiu tomar uma xícara de café e sentar-se no chão próximo à lareira. Ele então sentou-se em sua poltrona do outro lado do cômodo e ficou a observá-la. Começaram a conversar, ele estava intrigado a respito de onde ela viera, para onde ia, o que fazia, porque estava ali... E sua curiosidade foi diminuindo a medida em que conhecia quem era aquela jovem tão cativante.
Clara dissera que estava viajando já haviam dois dias. Não tinha mais família, pois seus pais sofreram um grave acidente alguns anos antes. Poucas semanas antes daquele dia encontrara um diário de seu pai contando histórias e momentos marcates de sua vida. Em uma das páginas ele descrevia um lugar belíssimo na Serra. O topo de uma das montanhas de onde era possível ver o dia transformar-se em noite, a noite transformar-se em dia, ver a água virar nunvem, e as nuvens virarem chuva. Um lugar onde era possível se sentir em paz, um lugar que acalmava, onde a brisa trazia um doce cheiro de jasmim...
O silêncio invadiu a sala para que uma lágrima pudesse escorrer em sua face, mostrando todo sentimento, pesar e importância que aquela viagem tinha para ela... sem mais precisar dizer,se aproximou de Clara, enxugou-lhe as lágrimas e deixou que o silêncio conduzisse a conversa por algum tempo.
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