Gostava de observar pedaços de fotografias... Gostava de ver uma imagem, um estranho, uma paisagem, uma bela mulher... e imaginar as possíveis histórias por trás de cada traço, cada expressão, cada gesto.
Ele via sorrisos, mas gostava de descobrir o que estava por trás desses sorrisos. Dizia que cada sorriso era único. "Não me importa que ninguém me entenda!" Era claro para aquela mente tão peculiar que um sorriso não era correspondente a alegria. Haviam aqueles maliciosos, ansiosos, medrosos, mentirosos...
Tão curiosos quanto os sorrisos eram as lágrimas, que não eram só de tristeza, mas também de alegria, raiva, ciumes, paixão... Ah! Como era mágico observar fotos ou partes de fotos e tentar descobrir o que queriam de fato mostrar, o que viviam aquelas pessoas, por quais mudanças passaram, por que estavam felizes, por que estavam tristes, por que se apaixonaram?
Passava seu dia recortando de revistas: mãos, que teriam tocado algum objeto, em alguém, mãos vividas, outras jovens ainda, com traços e histórias diferentes.Certa vez encontrou uma fotografia que não sabia exatamente o porque, mas uma fotografia... especial? Num canto escondido da plateleira de livros da biblioteca, lá estava ela. Uma imagem tão simples, tola talvez, mas uma imagem que o hipinotizava. Uma imagem pela qual se apaixonou. Tentava imaginar tantas possiveis situações que envolvessem aquelas duas pessoas ali sentadas.
Começou a imaginar seus rostos, suas feições. Havia uma mulher, jovem aparentemente, estava sentada sobre as tábuas de uma cerca, com os pés soltos ao ar. Calçava um belo sapato de salto alto e usava um vestido tão simples, e ainda assim tão lindo.
Pensava que ela estaria feliz, pois estava acompanhada e acabara de receber um buquê de flores, "que mulher não estaria feliz?". Podia imaginar seus cabelos castanhos que contornavam seu rosto fino e delicado, imaginava seus olhos sorridentes, brilhantes, encantados de amor. Olhos castanhos escuros, mas profundos, arredondados, doces olhos castanhos, com cílios longos que os faziam tão sedutores. Ele se divertia tanto imaginando tantos detalhes.
Aquele homem que aparecia ao lado de tão bela mulher na foto não o intrigava, não o inspirava a imaginar... Estava tão encantado com a bela imagem que formava em sua mente de uma mulher que desejava que fosse real, que não queria pensar em como ela teria ganhado aquele buquê, por que o ganhara, quem era aquele homem, qual a história daquele casal, de onde vieram, para onde iriam... Só conseguia pensar que queria que ela fosse real. Pensava que ela era real. Aquela jovem viveu em alguma época e esteve ali onde ele estava tempos antes, pois tratava-se de uma foto que fora encontrada na biblioteca da casa de seu avô. Quem seria ela?
Sua mente girava enquanto visualizasa cada centímetro de seu rosto. Os traços que a expressavam, sua boca, as maçãs de seu rosto... Seria possível? "Apaixonar-me pela idéia de um ser criado perfeitamente para mim?" E como queria que fosse real.
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