domingo, 30 de janeiro de 2011

Pedaços..



Gostava de observar pedaços de fotografias... Gostava de ver uma imagem, um estranho, uma paisagem, uma bela mulher... e imaginar as possíveis histórias por trás de cada traço, cada expressão, cada gesto.
Ele via sorrisos, mas gostava de descobrir o que estava por trás desses sorrisos. Dizia que cada sorriso era único. "Não me importa que ninguém me entenda!" Era claro para aquela mente tão peculiar que um sorriso não era correspondente a alegria. Haviam aqueles maliciosos, ansiosos, medrosos, mentirosos...
Tão curiosos quanto os sorrisos eram as lágrimas, que não eram só de tristeza, mas também de alegria, raiva, ciumes, paixão... Ah! Como era mágico observar fotos ou partes de fotos e tentar descobrir o que queriam de fato mostrar, o que viviam aquelas pessoas, por quais mudanças passaram, por que estavam felizes, por que estavam tristes, por que se apaixonaram?
Passava seu dia recortando de revistas: mãos, que teriam tocado algum objeto, em alguém, mãos vividas, outras jovens ainda, com traços e histórias diferentes.
Certa vez encontrou uma fotografia que não sabia exatamente o porque, mas uma fotografia... especial? Num canto escondido da plateleira de livros da biblioteca, lá estava ela. Uma imagem tão simples, tola talvez, mas uma imagem que o hipinotizava. Uma imagem pela qual se apaixonou. Tentava imaginar tantas possiveis situações que envolvessem aquelas duas pessoas ali sentadas.
Começou a imaginar seus rostos, suas feições. Havia uma mulher, jovem aparentemente, estava sentada sobre as tábuas de uma cerca, com os pés soltos ao ar. Calçava um belo sapato de salto alto e usava um vestido tão simples, e ainda assim tão lindo.
Pensava que ela estaria feliz, pois estava acompanhada e acabara de receber um buquê de flores, "que mulher não estaria feliz?". Podia imaginar seus cabelos castanhos que contornavam seu rosto fino e delicado, imaginava seus olhos sorridentes, brilhantes, encantados de amor. Olhos castanhos escuros, mas profundos, arredondados, doces olhos castanhos, com cílios longos que os faziam tão sedutores. Ele se divertia tanto imaginando tantos detalhes.
Aquele homem que aparecia ao lado de tão bela mulher na foto não o intrigava, não o inspirava a imaginar... Estava tão encantado com a bela imagem que formava em sua mente de uma mulher que desejava que fosse real, que não queria pensar em como ela teria ganhado aquele buquê, por que o ganhara, quem era aquele homem, qual a história daquele casal, de onde vieram, para onde iriam... Só conseguia pensar que queria que ela fosse real. Pensava que ela era real. Aquela jovem viveu em alguma época e esteve ali onde ele estava tempos antes, pois tratava-se de uma foto que fora encontrada na biblioteca da casa de seu avô. Quem seria ela?
Sua mente girava enquanto visualizasa cada centímetro de seu rosto. Os traços que a expressavam, sua boca, as maçãs de seu rosto... Seria possível? "Apaixonar-me pela idéia de um ser criado perfeitamente para mim?" E como queria que fosse real.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Brisas...





A perguntavam se estava tudo bem. O que responder? Dizer a verdade culminaria em explicar o porque de não estar tudo bem, e escutar conselhos, ouvir consolos, e só de pensar nisso era quase automático responder que sim, estava tudo ótimo, fingir um sorriso e continuar quieta como se aquele fosse o seu normal.

Precisava sair dali! Deixar aquelas pessoas que pareciam viver uma alegria frenética e exagerada, deixar aquele bom humor irritante que a fazia querer sumir. Precisava livrar-se daquela situação tão incômoda, daqueles dias que pareciam não ter mais fim. Precisa-va parar de sorrir simplesmente porque os outros a queriam ver sorrir, parar de viver aquele falso bem estar, aquele falso conforto...

Saiu de casa sem avisar ninguém, sem compromisso, sem riscos de ser incomodada, encontrada... Finalmente podia respirar... ah! como era bom estar só com seus pensamentos, caminhar meio sem rumo, sem horas, estar apenas consigo mesma. Que alivio!

Caminhava lentamente, enquanto caminhava podia escutar o som dos pássaros, podia ver o mar ao longe e resolveu ir em sua direção. Não haviam carros na rua, apenas alguns pedestres que surgiam de uma esquina qualquer e sumiam tão discretamente como apareciam. Finalmente tudo estava calmo. O sol ja estava baixo e não muito forte, mas ainda assim, lindo!

Após alguns minutos caminhando pode chegar á praia... deixou para trás o asfalto das ruas que a levaram até o mar. Descalçou os chinelos e pôs os pés na areia. A areia do começo da praia, tão clarinha, tão macia.. Adorava sentir seus pés afundarem na areia enquanto caminhava.

Era fim de tarde, a praia estava vazia, poucas pessoas caminhavam à beira mar, outras insistiam em ficar esticadas na areia sob um sol que já estava partindo. Escolheu um lugar na areia e sentou-se. Parecia que naquele instante tudo iria se acertar, todos os problemas sumiriam e as angustias também. Agora poderia pensar.

Sentia a brisa que vinha do mar bater em seu rosto, refrescar o calor absurdamente forte que naquele lugar. Como gostava do vento... Era capaz de passar horas ali sentada, de olhos fechados, sentindo a brisa suave bater em seu rosto, envolver seu corpo trazendo uma paz tão grande! Paz que seu coração já tão apertado nao sentia ha um tempo.

Começou então a pensar no porque de estar tão angustiada. Por que sentia aquela tristeza tão grande? Não haviam motivos... Mas não conseguia evitar aqueles sentimentos. Era tão estranho... Pensar em todas as alegrias que teve, em todo o amor que recebia e que sentia por aquelas pessoas que ha poucos minutos a estavam irritando profundamente. Mas precisava de um tempo para respirar...

Pensava em como queria a pessoa certa ao seu lado naquele instante... Aquele homem que a faria sorrir de uma maneira que só ele conseguia. "O sorriso que só aparece quando está comigo" Ela dizia a ele. E era verdade.. Sentia que naquele instante havia um pedaço dela que estava distante, um pedaço tão importante, tão indispensável...!

Ali sentada podia imaginar como seria se ele estivesse ali. Sentado ao seu lado enquanto olhavam o sol se pôr, caminhando de mãos dadas com os pés na agua do mar. Podia se ver sorrindo, brincando e parecia um sonho tão bom! Podem pensar que é clichê, mas não importa, pois a felicidade dela estaria ali.

Do sonho a realidade... Estava só. Ao mesmo tempo em que sentia uma saudade enorme, capaz de dominá-la a ponto de entristece-la e corroe-la, sabia que em breve poderia acabar com aquele sentimento, e por isso precisava manter-se sã. Pensar em quão pouco faltava para sentir-se plenamente feliz, ao invés de apenas notar quão infeliz estava.

Tuda a paz que fora buscar em sua caminhada estava ali, sempre esteve. Precisou apenas do silêncio, de uns minutos consigo mesma para notar o quão estupidamente frágil estava se deixando transparecer.

Ali, sentada na areia, com a brisa e o mar como companhia, pode ver pais brincando com seus filhos, avôs brincando com seus netos, casais enamorando-se, amigos divertindo-se, e pode notar o quanto já esteve feliz ali, que o tempo passa, tudo passa, e os segundo que pareciam tão eternos já estavam a correr contra o tempo.