Ali deitada em seu pedacinho do mundo, não conseguia conter as palavras, os pensamentos, as lágrimas e as risadas que há tanto tempo inundavam e confundiam sua mente.
Não podia mais guardar para si tantas pequenas mágoas que pareciam nao ter importancia, mas que naquele instante eram uma bola de neve tão grande, que não tinha mais controle.
Pensava que podia aguentar, afinal, não era nada demais, mas todos os "nada de mais" agora eram alguma coisa...
Como lidar com tantas dificuldades ao mesmo tempo, como ter a coragem de falar, como não magoar a quem tanto se quer bem, como? Sempre que tentava explicar o que acontecia consigo terminava engolida por um choro desproporcional que a impedia de continuar e a fazia parecer completamente desequilibrada e bipolar, fazendo com que aguentasse por mais um pouco. Já pensara em dizer, ja esperara o melhor momento, ja ficara confusa, ja tentara começar, ja desistira, ja aguentara.. Era possível uma solução que não parecece infantil? Era possivel explicar o que sentia por uma carta? Haveria de ser, teria de ser. Começara a escrever umas poucas palavras em um pedaço de papel em branco. A cada linha de rascunho um punhado de folhas acabava amassada no chão. Pode ser que estejas se perguntando por ela estaria fazendo aquilo. Bom creio que se sentira sosinha, sabia que não estava mas se sentia assim.. sabia que era muito amada, muito querida, mas a distancia que um dia foi temporaria parecia não querer mais ir embora, aquela que um dia fora tão alegre, agora dividia sua razão de estar feliz com tantas outras coisas e pessoas que eram tão importantes quanto ela, ou quase, e que mereciam estar no lugar onde estavam. É claro que era possível e real ela estar feliz pela conquista dele, é claro que estava mesmo feliz por ele, mas ainda asssim as mudanças e felicidades não eram suas, pois continuava estagnada no mesmo ponto de quando tudo começara, não por preguiça, não por que não tentasse, nao por gosto, mas por destino, sei lá! Como lidar com a perda da sua companhia de todos os dias de todas as horas, como aprender a dividir esse espaço que um dia fora seu com tantos outros fatores... Ao mesmo tempo pensava que egoísta seria por deixar escapar sentimentos tão... tão... pequenos? seriam realmente pequenos? será que bem no fundo, não haveria um pouco de razão no que tentava dizer? Sua cabeça parecia girar enquanto tentava decidir o que fazer... e como fazer.... e como explicar ter ficado calada por tanto tempo e simplesmente resolver gritar quando tudo parece estar em seu curso perfeito... Há quem possa a chamar de insana! E quem sabe ela realmente seja? Mas quem de fato não é minimamente insano? Enquanto finalmente conseguia escrever mais de um parágrafo na mesma folha pensava o que seria a insanidade. Amar demais? Amar incodicionalmente? Não brigar? Não reclamar? Ou seria insanidade essa falta de amor, ou seriam insanas aquelas pessoas que se fecham a estes sentimentos e entregas por medo do que virá depois... Diriam: "tolice pensar que será pra sempre, nada é!" mas se ela mesma não acreditasse que seria, quem mais o iria fazer? quem acreditaria por ela? E não se arrependeria jamais por sentir-se assim! Insanos seriam aqueles que se privam de uma felicidade plena, que se privam de momentos inesquecíveis, que se pivam de ouvir uma palavra de conforto, que se privam de dizer algo que emocione, que se privam de chorar de alegria, que se privam de correr riscos, que são incapazes de acreditar e viver intensamente aquilo em que acreditam. E ela acreditava no que fazia, apesar de todo o medo e insegurança, acreditava que tudo aquilo poderia explicar ela mesma, que fariam com que a entendessem... Um último olhar sobre o papel já repleto de palavras foi lançado, uma respiração longa e profunda, um tremor por todo seu corpo, mas lá estava, tudo escrito... E já não teria mais volta. Que leiam!